Porque Oxalá usa o Ekodidé.
Conta a lenda que Oxalá, numa de suas caminhadas pelo mundo, iria passar pela aldeia de Oxum, onde pretendia parar e descansar. Exú, mensageiro dos orixás, correu para avisar Oxum que o grande orixá fun-fun estava a caminho de sua cidade. Era preciso organizar uma grande recepção, pois a visita era muito importante para todos.
Ela, então, apressou-se com os preparativos da festa, ordenando a limpeza de todas as casas e lugares públicos da aldeia, bem como que os enfeites utilizados fossem da cor branca. Oxum cuidou pessoalmente da ornamentação e limpeza de seu palácio, pois tudo tinha que estar perfeito, à altura de Oxalá.
Com tantos afazeres importantes, em tão curto espaço de tempo, Oxum não se lembrou de convidar as Iya-mi para a grande festa. As feiticeiras não perdoaram essa desfeita. Sentindo-se muito desprestigiadas, resolveram desmoralizar Oxum perante os convidados. No dia da chegada de Oxalá à cidade, Oxorongá entrou disfarçada no palácio para colocar, no assento do trono da Oxum, um preparado mágico, que não fora notado por ninguém.
Toda a cidade estava impecavelmente limpa e ornamentada. O palácio de Oxum, que fora caprichosamente preparado, tinha seus móveis e utensílios cobertos por tecidos de uma alvura imaculada. Branca também seria a cor das roupas utilizadas na cerimônia.
Oxalá finalmente chegou, sendo respeitosamente reverenciado numa grande demonstração de fé e admiração ao grande mensageiro da paz. Oxum, sentada em seu trono, esperava com impaciência a entrada de Oxalá em seu palácio, quando iria oferecer-lhe seu próprio assento. Mas, ao tentar levantar-se, percebeu que estava presa em sua cadeira e, por mais força que fizesse, não conseguia soltar-se.
O esforço que empreendeu foi tão grande, que, mesmo ferida, conseguiu ficar em pé, mas uma poça de sangue havia manchado suas roupas e também sua cadeira. Quando Oxalá viu aquele sangue vermelho no trono em que se sentaria, ficou tão contrariado, que saiu imediatamente do recinto, sentindo-se muito ofendido.
Oxum, envergonhada com o acontecido, não conseguia entender porque havia ficado presa em sua própria cadeira, uma vez que ela mesma tinha cuidado de todos os preparativos. Escondendo-se de todos, foi consultar o oráculo de Ifá para obter um conselho. O jogo, então, lhe revelou que Oxorongá havia colocado feitiço em seu assento, por não ter sido convidada.
Exú, a pedido de Oxum, foi em busca do grande pai, para relatar-lhe o ocorrido. Oxalá retornou ao palácio, onde a grande mãe das águas estava sentada de cabeça baixa, muito constrangida. Quando ela o viu, começou a abanar seu abebe, transformando o sangue de suas roupas em penas vermelhas, que, ao voar, caíram sobre a cabeça de todos os que ali estavam, inclusive a de Oxalá.
Em reconhecimento ao esforço que ela empreendeu para homenageá-lo, ele aceitou aquela pena vermelha (ekodide), prostrando-se à sua frente, em sinal de agradecimento.
O LUTO DE IANSÃ
Há muito tempo atrás, uma bela moça vivia na mata com seu velho pai adotivo. Essa moça era Iansã. Dona de uma beleza extraordinária vivia para os afazeres domésticos enquanto seu pai Odulecê, que era um grande caçador, embrenhava-se pela floresta em busca do alimento para ambos.
Um dia Odulecê partiu para uma caçada e demorou muito mais que o comum. A noite caiu, a madrugada se foi, o dia amanheceu e nada do caçador aparecer. Iansã ficou desarvorada e saiu em desespero procurando pelo velho pai. Palmilhou cada canto da mata durante três dias e três noites até encontrar o homem que a criara com tanto carinho, morto. Tinha sido atacado por uma fera e não tivera chance alguma. Ali estava seu corpo dilacerado. A dor consumiu Iansã, na visão daquela cena, suas lágrimas correram e de seu peito um grito rouco brotou. Nesse instante a mata foi sacudida por uma ventania incontrolável, as folhas voavam, os troncos velhos e fortes balançavam açoitados pelo vento que a tristeza de Iansã causara.
Voltando para casa, a moça resolveu homenagear o homem que tanto bem lhe fizera. Para isso, embrulhou todos os pertences do morto, preparou suas iguarias preferidas e dispôs tudo em circulo ali mesmo em frente à casa que durante tantos anos dividiram. Durante sete dias cantou e dançou em torno das oferendas. Seus ventos espalharam-se pelos campos, matas e aldeias e todos puderam sentir a tristeza e solidão de Iansã. Na sétima noite embrulhou tudo e, entre lágrimas, depositou aos pés de uma árvore sagrada.
Olorum que a tudo vê e de tudo sabe, comoveu-se com tamanha dor e resolveu que aquela jovem merecia um destino melhor. Bateu com seu cajado e transformou-a em orixá. Iansã ganhou a imortalidade e o cargo de guia dos mortos nos caminhos sagrados. Seria ela a mãe dos espaços dos espíritos.
E foi a partir daí que Olorum definiu o ritual a que todos os mortos têm direito: comidas, cantos, danças, um espaço sagrado e uma mãe carinhosa para encaminhá-los, Iansã.
O NOME DAS PLANTAS
Ifá foi consultado por Òrúnmílá, que estava partindo da terra para o céu indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse:
- “Eis todas as folhas que queria pegar. O que fará com elas?”
Òrùnmílá respondeu que iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra. Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra), Òrúnmílá encontrou Òsanyìn no caminho. Perguntou:
- “Òsanyìn, aonde vais?”
Òsanyìn respondeu:
- "Vou ao céu buscar folhas e remédios".
Òrúnmílá disse que já havia ido buscar folhas no céu para benefício dos seres humanos da terra. Disse:
-“Olhe todas essas folhas Òsanyìn. É delas que precisas?
Òsanyìn respondeu:
-“Sim, com elas poderei fazer remédios (feitiços) para os seres humanos. Mas como usá-las se não sei os nomes dessas plantas?
Então Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia. Ele disse:
-“Òsanyìn, carregue todas as folhas para a terra. Iremos para terra juntos.
E foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsanyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das folhas apanhadas.
Àiyé ( terra, mundo)
A primeira divindade feminina criada, Aiyê, o mundo em que vivemos.
O universo é visto dentro do culto aos Orixás como uma grande cabaça e esta mesma é representada por Oduduá e Obatalá. Oduduá é considerada como a parte de baixo da cabaça e Obatalá é considerado como a parte de cima da cabaça. Àiyé, Ayé ou Aiye é uma palavra da língua yoruba que, na própria mitologia é a terra ou mundo físico, paralelo ao Orun, mundo espiritual.
Tudo que existe no Orun coexiste no Aiye através da dupla existência Orun-Aiye.
ALAGEMÔ (camaleão)
Olodumaré enviou à terra o camaleão, sendo o segundo bicho a surgir após a galinha, que ciscou a terra para espalhar e criar superfície sólida sobre as águas. O camaleão por sua calma, fácil adaptação, olhos atentos e se necessário muito ágil, poderia andar sobre qualquer superfície e se agarrar nos galhos. Alagemô ou agemô simbolo de Orumilá, retorna a Òrún (céu) e diz a Olodumaré, que a terra é fria, úmida e escura.
Orí e Ojú
No princípio dos tempos da Criação, Olodumaré havia criado o homem, seus braços, pernas, seu corpo. Olórúm lhe insuflou o èmí (respiração divina), a vida. Conferiu a exú a circulação e o calor, mas faltava algo para se tornar completo este novo ser, algo que o direcionasse, governasse.
Então Oxalá fez o Orí (a cabeça) e Ojú (os olhos) para isélé o homem. Olórúm pediu à Àjàlà, o oleiro divino, para confeccioná-la. Oxalá quando foi confeccionar Orí pediu a ajuda de Odúm (destino, caminho), e assim todos os Odús ajudaram à Àjàlà a confeccionar Orí.
Olórúm enviou Orí e Ojú ao aiyè (terra, mundo), pedindo que retornassem com o que julgassem ser melhor ao ser humano, e não passando muito tempo, retornaram. Ojú logo apresentou pepitas de ouro, pérolas e outras pedras preciosas. Porém, em sua vez, Orí mostrou omi (água) e iyan (inhame). Isso sim é bom ao ser humano: o inhame alimenta e a água o sacia a sede. Então, O Ser Supremo ordenou que Orí governasse isélé.
Lenda de Bara
Oxê Bara era muito pobre, e por esse motivo foi à beira do rio falar com Oxum.
Oxum, depois de ouvir toda lamentação de Oxê Bara, deu a ele uma pedra pequena e disse:" cuide dessa pedra e você irá prosperar". Oxê Bara levou a pedra para sua casa e a colocou em um lugar visível. Oxê Bara começou a prosperar, e cada vez que ganhava dinheiro comprava algo valioso para sua casa e com isso mudava a pedra de lugar. Chegou um dia, que Oxê Bara havia acumulado tanto dinheiro e adornos para sua casa, que não tinha aonde colocar a pedra, e esquecendo-se dos conselhos de Oxum, jogou a pedra fora.
Logo Oxê Bara começou a perder tudo que tinha e novamente pobre foi ao rio em busca de Oxum, que ao vê-lo, logo perguntou pela pedra que tinha dado a ele. Muito envergonhado ele contou a Oxum que tinha tantos valiosos bens e tanto adornos para sua casa que chegou um momento que não tinha aonde colocá-la que por isso a jogou fora.
Oxum lhe disse:" Como jogou fora o que te dei? duvidastes dos meus conselhos? Então morrerás pobre e sozinho".
Falando isso voltou novamente para o fundo do rio.
Conclusão: a desobediência leva a destruição. Devemos cuidar de nosso orixá que está simbolizado na pedra e nunca trocá-lo por nada. Devemos ouvir a espiritualidade sempre e obedecer sempre, pois ouvir e não mudar, no final estaremos sentenciados ao fracasso e sem ajuda dos nossos orixás.
Então aconteça o que acontecer temos que ter obediência e cultuar nossos orixás.
Cantar é fácil, difícil é encantar.
A LENDA DOS KARÊ'S:
Reza uma de muitas lendas que Iyemonjá passeava pelas matas quando avistou de longe o pequeno Logun Edé. Ela ficou por horas admirando a beleza do pequenino. Foi até Orumilá, dizendo que queria ter um filho que fosse tão belo quanto ele. O sábio lhe disse que a criança era mágica e encantada, pois era fruto da união e do amor de seus pais.
Da mesma forma Iyemonjá estava enlouquecida querendo ter um filho com tal encanto. Orumilá lhe disse que ela deveria pegar um obi, passá-lo no ventre e logo após jogar nas águas. E assim a rainha do mar foi até as águas mais belas e límpidas, passou o obi em seu ventre, mais na hora de jogar na cachoeira, ela atirou errado e o obi caiu em cima de uma pedra, que o dividiu ao meio, caindo metade nas águas e a outra metade no mato. E passando-se 9 meses, Iyemanjá deu a luz a um casal de gêmeos, e deu- lhes o nome de Oxum Karê e Odé Karê, e ambos eram tão belos e encantados como Logun Edé.
As crianças cresceram travessas. Oxum se vestia como Odé, e Odé como Oxum, e por isso ninguém nunca sabia quem era quem. Aprenderam a arte da caça e por isso ambos levam o ofá (arco e flecha). Em sua aldeia, quando estava na temporada de caça, Oxum Karê ao invés de ficar lá com as mulheres preparando a colheita e a lenha, ia para as longas caçadas com seu irmão e com os demais caçadores de sua aldeia. Odé, ao invés de caçar apenas nas matas com os outros, passou a se embrenhar pelos rios e cachoeiras se tornando junto dela um ótimo pescador.
Assim o desejo de Iyemonjá se realizou, pois Orumilá lhe deu dois encantos caçadores das águas! Até hoje muitos acreditam que certa vez houve uma grande seca, acabando com os rios e animais, e por tamanha tristeza os Karê’s tornaram-se um só, juntando assim o obi novamente. Por isso os filhos de Karê são doces como Oxum e destemidos como Oxossi, por que são orixás individuais, mais quando necessário, tornam-se uma só força, uma só magia, um só encanto.
Como Oxum Conseguiu O Segredo Do Jogo De Búzios
Oxum queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Exú e este não queria lhe revelar. Oxum foi procurá-lo. Ao chegar perto do reino de Exú, este desconfiado perguntou-lhe o que queria por ali, que ela deveria embora e que ele não a ensinaria nada. Ela então o desafia a descobrir o que tem entre os dedos. Exú se abaixa para ver melhor e ela sopra sobre seus olhos um pó mágico que ao cair nos olhos de Exú o deixa cego e arde muito. O Orixá Exú gritava de dor e dizia;
- Eu não enxergo nada, cadê meus búzios?
Oxum fingindo preocupação, respondia:
- Búzios? Quantos são eles?
- Dezesseis, respondeu Exú, esfregando os olhos.
- Ah! Achei um, é grande!
- É Okanran, me dê ele.
- Achei outro, é menorzinho!
- É Eta-Ogundá, passa pra cá...
E assim foi até que ela soube todos os segredos do jogo de búzios. Ifá, o Orixá da adivinhação, pela coragem e inteligência da Oxum, resolveu-lhe dar também o poder do jogo e dividí-lo com Exú.
Conta-nos outra lenda, que para aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, Oxum, foi procurar Exú. Exú, muito matreiro, falou a Oxum que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Oxum sobre os domínios de Exú durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo, em troca ele a ensinaria.
E assim foi feito. Durante sete anos Oxum foi aprendendo a arte da adivinhação que Exú lhe ensinara e conseqüentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Exú.
Findando os sete anos, Oxum e Exú, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Oxum resolveu ficar em companhia desse Orixá. Em um belo dia, Orixá Xangô que passava pelas propriedades de Exú, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Oxum.
Foi-se a tal ponto que Xangô, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Oyó.
Oxum rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Exú. Xangô então irritado e contrariado seqüestrou Oxum e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo.
Exú, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência.
Chegando às terras de Xangô, Exú foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre. Lá estava Oxum, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei.
Exú, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Orumilá, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Oxum desvencilhar-se dos domínios de Xangô. Exú, através da magia pode fazer chegar às mãos de sua companheira a tal poção. Oxum tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Exú para sua morada, e foi assim que Orixá Oxum conseguiu o jogo de búzios.
A Lenda Do Orixá Oxóssi Odé Mata
Nesta lenda iremos aprender um pouco mais sobre os fundamentos do Orixá Oxossi, pois este Odé (Espírito do Caçador) foi quem explorou ìgbó (floresta) por um caminho autorizado por Ogum (Espírito do Ferro). Oxossi é conhecido entre os orixás como o maior dos Odés (caçadores), porque se tornou um ìgbó negro (feiticeiro da floresta). Oxossi foi quem forneceu comida para sua família.
Oxossi foi quem forneceu comida para sua família entendida em sentido nato. Oxossi foi quem forneceu comida para sua aldeia. O Awo (babalawo) de Oxossi foi quem ensinou (O mistério do cenário) a ele, cujo destino era caçar na trilha da floresta. Ensinou o Axé (poder espiritual) para fazer um caçador ter dinheiro.
Oxossi foi salvo por seu Odideré (papagaio). O pássaro foi chamado: Ló kó’gbó odideré ogu, que significa: “Papagaio traz o medicamento usado para caçar”. Antes de deixar o cenário, Oxossi sempre falava ao seu animal de estimação “Papagaio, guie-me além do medo”.
Oxossi era sempre o primeiro a ser alimentado, ao retornar da caça. No dia em que os animais da floresta desapareceram, Oxossi deixou seu odideré aos cuidados de sua Iyáàgbà (avó). Nada no mundo era mais amado por Oxossi que o seu odideré e sua Iyáàgbà sabia disso, com ela o pássaro estaria a salvo enquanto ele estivesse desaparecido.
Dirigindo-se ao ìgbó (floresta), Oxossi começou a procurar. No primeiro dia não encontrou nada. No segundo dia, não encontrou nada. Uma semana se passou sem resultados. Um mês se passou sem qualquer sorte. Eventualmente, ele perdeu a noção do tempo.
Antes de voltar para casa de mãos vazias, Oxossi continuou a viajar mais e mais pelo ìgbó (floresta). Toda a sua atenção estava concentrada na procura de uma trilha, procurando a caça e a comida para alimentar sua família e sua aldeia.
Um dia ele avistou um ekútè (rato dos arbustos), colocou óògún odideré na ponta (medicina feita com papagaio) de sua flecha. Quando óògún odideré estava no seu devido lugar, ele usou ofò Axé (o poder de invocação) para solicitar que seu objetivo fosse preciso.
Oxossi matou o ekútè com um único tiro. Levando o animal pela cauda, correu para casa para alimentar aqueles que estavam aguardando o seu retorno. Quando chegou a casa foi direto oferecer um pouco da comida para o seu animal de estimação, odideré. Odideré não estava em seu aposento.
Tudo o que restava de seu animal de estimação foram algumas penas espalhadas. Com dor e angústia Oxossi correu para fora gritando por vingança. Ele colocou óògún odideré na ponta de sua flecha.
Quando o medicamento ficou pronto, usou ofó Axé (o poder de invocação) para solicitar que sua flecha fosse atingir a pessoa que tinha comido odideré. Oxossi puxou a corda do seu arco e atirou a seta no topo do céu. Oxossi foi dentro de casa e descobriu que sua flecha tinha perfurado o coração de sua Iyáàgbà (avó).
A partir desse dia os que adoram Oxóssi o elogiam, dizendo:
“Iba xé Ode mata”, que significa: Louvo o caçador que nunca erra o alvo.
O Que Oxossi e essa lenda siginifica?
Isto se refere a todos aqueles que se recusam a levar a sério a questão de encontrar o seu destino pessoal.
Oxossi, no contexto do ritual de Ifá / orixá é quem nos leva pelo caminho mais curto e nos coloca em perfeito alinhamento com o nosso destino. Este conto (itan) sugere que aqueles que encontram o seu caminho podem ter o alvo maior sabotado por aqueles que estão mais próximos. Na história sagrada de Oxossi, a avó come o pássaro por causa de sua necessidade pessoal de alimentos. Ela ignora completamente a importância da relação entre Oxossi e seu pássaro.
Em Ifá, é por vezes um papagaio treinado que diz determinadas palavras-chave que são essenciais para o ofó Axé do áwo (mistério da arte da invocação). Usando um animal como um instrumento de invocação, há o risco de que a intenção por trás das palavras ditas seja obstruída por pensamentos impróprios.
Nesta história, o papagaio é a fonte do Axé (poder espiritual) de Oxossi, sugerindo que Oxossi usou odideré para preparar o medicamento colocado na sua flecha. Sua avó comeu o pássaro por causa de suas necessidades imediatas e este ato tem um efeito negativo sobre a capacidade de Oxossi em preparar sua medicina (magia) no futuro.
A raiva sobre esta indiscrição fez de Oxossi um míope que faz uso de seu poder contra a fonte desconhecida de sua raiva. Enquanto você diz a oração, ele se sente justificado em sua ação.
Quando você descobrir quem foi o responsável pela morte do papagaio estará passando por uma tristeza profunda. Isto sugere que o desejo de justiça nem sempre traz o resultado desejado.
Como Oxossi é o fator chave na colocação das pessoas em seu caminho rumo ao seu destino, ele tem um papel central na aplicação da lei contra essas forças que bloqueiam o processo de transformação espiritual. É Oxossi que traz a verdade sobre quem está a apoiar o nosso crescimento e quem é que impede nosso crescimento. Oxossi traz essa verdade não importa o quão doloroso possa ser.
Como caçador habilidoso, o papel do Orixá Oxossi é conhecer, compreender e invocar os espíritos da floresta como um fator preliminar no processo de viver em harmonia com o mundo. Quando os orixás foram trazidos da África para o hemisfério ocidental, os devotos invocaram Oxossi, o que permitiu ao orixá iniciar o processo de alinhamento espiritual com as forças que estavam presentes neste novo ambiente. Isto inclui o respeito aos antepassados que originalmente viviam no país.
Por esta razão Oxossi tornou-se associado com os espíritos nativos do ocidente servindo como guardião.
OBALUAÊ TEM AS FERIDAS TRANSFORMADAS EM PIPOCA POR IANSÃ
Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluaê viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os orixás. Obaluaê não podia entrar na festa, devido à sua medonha aparência.
Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do orixá, cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou, mas ninguém se aproximava dele. Iansã tudo acompanhava com o rabo de olho. Ela compreendia a triste situação e dele se compadecia.
Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado. Os orixás dançavam alegremente com suas Ekedes.
Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de mariô, levantando as palhas que cobriam suas pestilências. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê, o Deus da Doença, transformou-se num jovem belo e encantador. Obaluaê e Iansã tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
O FERREIRO
Havia um ferreiro que se queixava muito e dizia que estava muito mal. Ele então foi à Casa de ORUNMILÁ e este lhe fez uma consulta com IFÁ e disse que ele teria que fazer sacrifícios.
Porém como o ferreiro não tinha como fazer esses sacrifícios, começou então de novo a ficar triste.
No dia seguinte começou a preparar a forja para trabalhar logo cedo e ao mover as cinzas, encontrou um Inhame e disse: Já tenho algo para passar o dia de hoje, porém grande foi sua surpresa quando ao partir o Inhame, encontrou dentro algumas riquezas, onde ele pode quitar seus credores.
OBATALÁ foi quem colocou essas riquezas no Inhame para que ele não mais passasse dificuldades e assim pudesse cumprir com seus compromissos.
LENDA DOS ORIXÁS
Um Babalawo me contou que antigamente, os orixás eram homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes; Homens que se tornaram orixás por causa de suas sabedorias; Eles eram respeitados por causa de suas forças; Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos suas memórias e os altos feitos que realizaram; Foi assim que esses homens se tornaram orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra, antigamente, como hoje, Muitos deles não eram valentes, nem sábios, A memória destes não se perpetuou, Eles foram completamente esquecidos.
Não se tornaram orixás. Em cada vila o culto se estabeleceu sobre a lembrança de um ancestral de prestígio e lendas foram transmitidas de geração em geração para render-lhes homenagem.
LENDA DE EXÚ
Exú sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe.
Por isso, nas festas que se realizavam no Orun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos. Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação.
Então, eles pediram a Exú, que parasse com aquela atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar. Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos.
Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores.
Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida. Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.
Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Exú confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás.
E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans.
A lenda do Ipeté
Reza a lenda que Osun se encontrava com dificuldades para engravidar, e diante dessa situação, decide consultar Orunmilá. A resposta de Orunmilá diante de seu problema foi indicar que ela oferecesse uma comida para suas irmãs.
Para isso, Osun teria que criar uma comida diferente para que elas tivessem vontade de comer. Como Osun não sabia o que fazer, Orunmilá a pediu que caminhasse numa estrada aonde um homem iria lhe presentear com um fruto e que desse fruto ela teria que produzir essa comida.
No dia seguinte, Osun pôs-se a caminhar e já cansada de tanto andar, sentou à beira da estrada. Quando Ogun avistou Osun, perguntou o que ela estaria fazendo longe de seu reino. Osun contou o que se passava, e Ogun a levou até o fruto que seria o principal elemento dessa comida, o Ixú, e entrega a Osun. Osun agradecida pergunta a Ogun o que ele gostaria de receber pelo favor.
Ogun encantado pela doçura e beleza de Osun lhe responde que nada quer em troca, mas que ela teria que sustentar na sua cabeça a panela do Ipeté, e sob a comida a folha de abre-caminho, e que não se esquecesse de acomodar os okutás de suas irmãs sobre o ipeté.
Depois de Osun ouvir as recomendações de Ogun e seguir suas orientações, Osun dá a luz a seu filho querido, e lhe dá o nome de Logun-Edé.
OXALÁ
Oxalá estava morrendo de saudades de um de seus filhos, Xangô, que morava em terras longínquas. Antes porém de viajar, consultou Ifá, o Deus da Adivinhação, que desaconselhou a viagem. Mas ante a teimosia de Oxalá, determinou-lhe que, durante a viagem, além de levar três mudas de roupas brancas, sabão e Ori, concordasse com tudo o que as pessoas lhe pedissem sem jamais irritar-se.
Durante o caminho Oxalá encontrou-se com um Exu, o senhor do Azeite de dendê, que o saudou efusivamente e pediu um abraço. Oxalá cumprindo as determinações de Ifá abraçou-o, e Exu que carregava um barril do azeite sobre as costas, ao abraçá-lo derramou todo o azeite por cima dele e foi-se rindo, satisfeito com a sua brincadeira. Oxalá lembrando-se das determinações de Ifá, resignadamente, lavou-se com o sabão, passou Ori no corpo, despachou a roupa suja e seguiu viajem.
Mais adiante encontrou outro Exu, agora o dono do carvão, que também o saudou como o anterior e fez exatamente a mesma brincadeira, sujando-o de pó carvão retirando-se e rindo também. Mas uma vez, Oxalá se limpa, e despacha a roupa suja, troca de roupa e segue a viagem, sem se aborrecer como Ifá determinara.
Ao chegar ao reino de Xangô, viu um lindo cavalo branco, reconhecendo-o como um que em outras épocas havia dado de presente ao seu filho. O cavalo também, reconhecendo-o, seguiu mansamente com ele. Nisso, chegam os criados de Xangô, e ao verem Oxalá, sem o reconhecerem, levando o cavalo, tomam-no por um ladrão, agridem-no e jogam-no numa masmorra. Lá ficou durante sete anos.
Durante esse tempo, o reino de Xangô sofreu muitas desgraças, a colheita era ruim, o gado foi dizimado pela seca, as mulheres ficaram estéreis e as pessoas morriam de fome. Xangô, sem saber o que estava acontecendo, mandou chamar os mais afamados adivinhos, chegando a consultar o maior de todos os oráculos, Ifá! Este lhe revelou, que o acontecido era em virtude de ter em suas masmorras um inocente.
Xangô manda vasculhar todas suas prisões, até chegar a Oxalá. Levado o prisioneiro a frente do grande rei, este reconhece seu pai e imediatamente manda buscar água para lavá-lo. Todos se purificaram e vestiram-se de branco em seu respeito. Como Oxalá, mal podia andar, alquebrado pelos maus-tratos, e tempo em que ficou preso, Xangô deu-lhe Ayrá, que o carregou nas próprias costas, até o palácio de Oxaguian, seu outro filho, onde morava anteriormente.
LENDA DE YEMANJÁ
Yemanjá estava perdida em seus pensamentos quando dela se aproxima seu filho Exu que lhe diz:
- Mãe por todos os caminhos que percorri pelo mundo, tive todas as belezas que quis, mas nenhuma delas era tão bela como você!
- O que diz meu filho, não estou compreendendo!
- Estou lhe dizendo que és a mulher mais linda que já vi e voltei para possuí-la.
E dizendo isso atirou-se sobre Yemanjá, tentando violentá-la. Yemanjá não podia permitir que aquilo acontecesse e resistiu bravamente, lutou tanto, que pela violência da luta, seus seios foram dilacerados. Enlouquecido e arrependido Exu, "caiu no mundo", sumindo na linha do horizonte.
Diz-se que dos seios dilacerados de Yemanjá, saíram lágrimas profundamente tristes e tantas que se tornaram toda a água salgada do mundo, de onde se originaram todos os mares e oceanos.
LENDA DE OGUM
Ogum, Oxossi e Exu eram irmãos e filhos de Yemanjá. Ogum era calmo, tranquilo, pacato e caçador, ele é que provia a casa de alimentos, pois Exu gostava de sair no mundo e Oxossi era contemplativo e descansado. Num belo dia, Ogum voltando de uma caçada, vê sua casa cercada por guerreiros de outras terras. Vendo sua casa em chamas e seus parentes gritando por socorro, tomou-se de uma ira incontrolável e sozinho derrotou todos os agressores, não deixando um só vivo. Daí em diante, Ogum iniciou seu irmão Oxossi na caça e disse a sua mãe.
- Mãe, preciso ir. Tenho de lutar, vencer e conquistar. Mas se em qualquer momento, qualquer um de vocês estiver em perigo, pensem em mim, que voltarei de qualquer lugar para defendê-los.
Assim partiu e tornou-se o maior guerreiro do mundo, vencia a todos os exércitos sem mesmo ter um exército, e tornou-se assim a verdadeira força da vitória.
LENDA DE OXOSSI
Oxossi conta que numa de suas inúmeras caçadas, sem que tivesse consultado antes Ifá, encontrou uma cobra no mato - Oxumarê. Ela lhe diz que não pode ser morta por ele, pois não é um bicho de penas, ele pouco se importou com o aviso, e matou-a com a lança, cortando-a em diversos pedaços e levando para casa para ele mesmo preparar um guisado, com o qual se refastelou.
No dia seguinte, Oxum, sua esposa, prevendo muitas catástrofes, por causa da quebra de tantos tabus, encontra Oxossi deitado no chão morto e rastros de cobra que iam em direção a floresta. Oxum chorou tanto e tão alto que Ifá, condoído pela sua dor, fez Odé, o caçador, renascer sob a forma divina de Oxossi.
LENDA DE XANGÔ
Certa vez, viu-se Xangô acompanhado de seus exércitos frente a frente com um inimigo que tinha ordens de seus superiores de não fazer prisioneiros, as ordens era aniquilar o exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam prisioneiros eram barbaramente aniquilados, destroçados, mutilados e seus pedaços jogados ao pé da montanha onde Xangô estava.
Isso provocou a ira de Xangô que num movimento rápido, bate com o seu machado na pedra provocando faíscas que mais pareciam raios. E quanto mais batia mais os raios ganhavam forças e mais inimigos com eles abatia. Tantos foram os raios que todos os inimigos foram vencidos. Pela força do seu machado, mais uma vez Xangô saíra vencedor. Aos prisioneiros, os ministros de Xangô pediam o mesmo tratamento dado aos seus guerreiros, mutilação, atrocidades, destruição total. Com isso não concordou Xangô.
- Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça, eram guerreiros cumprindo ordens, e seus líderes são quem devem pagar!
E levantando novamente seu machado em direção ao céu, gerou uma série de raios, dirigindo-os todos, contra os líderes, destruindo-os completamente e em seguida libertou a todos os prisioneiros que fascinados pela maneira de agir de Xangô, passaram a segui-lo e fazer parte de seus exércitos.
LENDA DE IANSÃ
Certa vez, Xangô foi visitar o irmão Ogum e conheceu sua mulher Iansã. Os dois se apaixonaram e Iansã largou Ogum, indo viver com Xangô. Tempos depois, com saudades, Iansã voltou para Ogum; então Xangô chamou seu exército e atacou o reino do irmão. Enquanto lutavam, Ogum mandou Iansã para o reino de Oxossi. Quando Xangô, vencedor, foi buscá-la, ela se casara com Oxossi.
Atacou-o, e Oxossi mandou Iansã para o reino de Omulú. E a história se repetiu, até que Iansã foi mulher de todos os Orixás. Mas no final acabou voltando a viver com Xangô, e de sua união nasceram os gêmeos Ibeji. Iansã e Xangô sempre foram muito companheiros, mas Xangô, como rei, queria sempre ser o mais poderoso de todos. Iansã não se conformava com isso, pois ela é muito independente e não admite ser mandada por ninguém.
Certa vez, disseram a Xangô que, num reino vizinho, havia um sacerdote que conhecia uma poção que, quando ingerida, dava o poder de lançar fogo pela boca. Como estava envolvido numa luta, Xangô mandou Iansã buscar a poção para ele. Ao voltar, ela começou a pensar que não era justo que só Xangô tivesse esse poder; então, tomou um pouquinho da poção, para que o marido não percebesse. Assim, ela ficou com o poder mágico, mais como tomou pouca poção, é dona apenas dos ventos e dos raios fracos.
Depois que casou com Oxum que era muito dengosa, Xangô passou a negligenciar Iansã, que ficou muito enciumada. Um dia, quando Oxum foi tomar banho no rio, Iansã resolveu se vingar e fez surgir uma cortina de fogo no caminho; mas Oxum fez o rio transbordar e o fogo se apagou. Iansã ficou ainda mais irritada e atacou Oxum com a espada. Como Oxum só levava um espelho, usou-o para fazer com que o reflexo do sol cegasse a rival. Só assim Iansã parou e as duas puderam conversar.
Iansã viveu por muito tempo com Xangô e foi sua melhor companheira de aventuras. Apesar de sua inconstância, ela gostava muito dele. Por isso, quando Xangô morreu, ela ficou tão desesperada que não quis mais viver. Pediu aos Orixás que aceitassem sua ida para o mundo dos mortos em companhia do marido e então se matou. Por ter ido pela própria vontade, Iansã se tornou amiga dos Eguns. É por isso que Iansã é o único Orixá que tem coragem de participar do culto dos mortos, dominando-os com seu chicote.
LENDA DE NANÃ BURUKU
Ogum precisava atravessar um campo que fazia limites com as terras de Nanã. O terreno era pantanoso e traiçoeiro, mas para Ogum não tinha tempo ruim e ele decidiu-se a ir por ali mesmo. Quando iniciava a jornada, escutou a voz de Nanã que determinava:
- Estas terras têm dono rapaz, peça licença para passar!
Ogum não se curvaria a ninguém e respondeu:
- Ogum não pede nada a ninguém. Ogum toma e não será uma velha que irá me deter!
Nanã ainda determina, mais uma vez, que Ogum peça licença, e Ogum não a atende embrenhando-se pântano adentro. Nanã então ordena ao pântano que tragasse e matasse Ogum que é obrigado a usar de toda a sua força para livrar-se e salvar a própria vida.
Ogum teve de recuar, mas bradou!
- Tu és poderosa, vou procurar outro caminho, mas antes vou encher seu pântano de ponta de metal duro e afiado que cortará sua carne se tentar passar por ele também.
Nanã respondeu:
- Tu és forte e valoroso, mas precisas aprender a respeitar a terra dos outros. Por minhas terras não passarás, garanto!
E a partir desse dia, Nanã aboliu em suas terras o uso de metais.
LENDA DE OXUMARÊ
Oxumarê era o Babalawó da corte de um rei que, embora fosse rico e poderoso, não pagava bem seu sacerdote, que vivia na pobreza. Certo dia, Oxumarê perguntou a Ifá o que fazer para ter mais dinheiro; Ifá disse que, se ele lhe fizesse uma oferenda, ele o tornaria muito rico. Oxumarê preparou tudo como devia, mas, no meio do ritual, foi chamado ao palácio.
Não podendo interromper o ritual, ele não foi; então, o rei suspendeu seu pagamento. Quando Oxumarê pensava que ia morrer de fome, a rainha do reino vizinho chamou-o para tratar seu filho doente e, como Oxumarê o salvou, a rainha pagou-o muito bem. Com medo de perder o adivinho, o rei lhe deu ainda mais riquezas, e assim se cumpriu a promessa de Ifá.
Houve um tempo em que Oxumarê viveu no meio dos mortais. Ele era um grande Babalawó, curandeiro e vidente. Seus dons eram tão grandes, que ele adivinhava tudo que iria acontecer e orientava as pessoas para mudarem os fatos segundo seu gosto. Isso começou a interferir nos destinos das pessoas e a prejudicar os projetos dos orixás. Por isso, os orixás decidiram afastá-lo da humanidade. Falaram com Olorum, que transformou Oxumarê num arco-íris, que deveria ficar para sempre no céu. Mas Oxumarê tanto pediu, que conseguiu autorização para voltar a ter contato com os humanos de 3 em 3 anos.
LENDA DE IBEJI
Existiam num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles; em troca, pediam doces balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinices e, um dia, brincando próximos a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe.
O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão, pedia sempre a orumilá que o levasse para perto do irmão. Sensibilizado pelo pedido, orumilá resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.
LENDA DE EXU
Exu uma vez, chateado por não ter recebido sua oferta semanal na segunda-feira que é o seu dia, resolveu vingar-se. Vestiu um chapéu pontudo com um lado vermelho e outro branco. Passou pelas pessoas que, deveriam ter-lhe dado a oferenda, dois grandes e bons amigos, e amigavelmente cumprimentou-os.
- Boa noite, como vão, amigos?
- Vamos bem, gentil cavalheiro, boa noite para o senhor também?
E com um ligeiro abano de mãos se afastou. Um dos amigos falou para o outro.
-Quem será este cavalheiro tão educado com o chapéu vermelho que passou por nós?
Respondeu o amigo:
-Realmente é muito educado, mas o seu chapéu era branco!
-Que branco nada, era vermelho, está me chamando de cego?
-Qual nada, era branco, você é que está me chamando de mentiroso!
E imediatamente após dizer isso, partiu para agressão ao amigo que se defendeu usando uma faca, na qual foi rechaçado pelo oponente que também possuía outra arma de corte, resultando em feridas feias e morte aos dois. Exu que de perto assistia a tudo sorria e partiu. Estava vingado.