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Nação Angola
Nação Angola

A Nação Angola/Angola-Congo ou Muxicongo tem como base lingüística o kimbundo e cultua Nkisi/Mukixi. Esta com seus ritos fundamentados nas tradições e cosmogonias mantidas a duras penas pelos antepassados bantu, vindos de muitos povos distintos como angola, cambinda, lunda, makuá, kassange, essange, munjolo, rebolo, angico, e povos menores originários da contra-costa, além, é claro, da influencia de outros povos africanos, como os yorubás e ewe fom, formando assim tradições diferente, dentro do prórpio grupo conhecido como Candomblé de Angola, como Tumba Nsi, Tumba Junsara. Bate-Folha, Angolão, Angola Paketá, Kassange, Angola da Mariquinha e Goméia (que apesar de forte influencia yorubana, se identificava como angoleiro e seu fundador, o Sr. Joãozinho da Goméia, foi considerado por muitos como o Rei do Candomblé no Rio de Janeiro).

Devemos entender estas “Nações” em momentos históricos próprios e que todas se influenciaram entre si. Em alguns lugares, como no Maranhão, temos casas que foram fundadas por africanas canbindas e daomeanas, embora, por algum motivo prevaleceram as tradições daomeanas e em outros casos as tradições yorubanas, embora, em qualquer “Nação”, sempre exista elementos, deste ou daquele povo, que em muitos casos são mantidos por tradição e respeito aos antepassados, embora se conheça as diferentes origens. E, em alguns casos, os seus praticantes não têm o mínimo de consciência das origens diversificadas, identificando somente como tradições africanas, fazendo assim uma leitura “unificada e unificadora” de um continente tão diverso, como o Africano.

Pelos registros temos como o primeiro sacerdote iniciado no Brasil, de origem bantu, que mais tarde seria conhecida como Nação Angola-Congo, o Sr. Roberto Barros Reis, que foi o Iniciador da Sra. Maria Genoveva do Bonfim, conhecida como Maria Neném. A Sra. Maria Neném tinha o nome iniciático de Twenda Nzambi e Fundou uma casa de candomblé que chefiou até 1945.

De suas mãos saíram Manoel Ciriaco de Jesus, Tata Nludiamugongo, que teve casa de candomblé no Engenho Velho e depois assumiu a terreno da Ladeira da Vila América (ou Alto do Corrupio), que era do Sr. Manoel Kambambi, filho do Nkisi Nkosi. Foi Tata Ciriaco que formou a grande família hoje conhecida como Tumba Junsara, deixando a casa nas mãos de sua filha de santo e sobrinha de Tata Manoel Kambambi, Mam’etu Deré Lubdi, grande sacerdotisa. Hoje a casa é chefiada pela Nengua ria Nkisi/Mukixi Sra. Iraildes Maria de Jesus, filha do Nkisi Kindembo (Tempo), onde se celebra uma grande festa todos os anos no final de semana mais próximo ao dia 10 de agosto. Da raiz Tumba Junsara se espalharam várias casas em todo Brasil e no exterior.

Também das mãos de sacerdotisa Twenda Nzambi (Maria Neném) saiu o Sr. Manoel Bernardino, fundador da casa de Angola-Congo Bate Folha, na Mata escura, que também gerou uma enormidade de filhos e casas que seguem esta tradição em todo o país e em vários países estrangeiros.Além, é claro, de várias outras casas e famílias, que de acordo com os estudos e com os mais velhos são todos descendentes da sacerdotisa Maria Neném, pois foi ela que fundou a primeira casa de Candomblé de Angola – Muxicongo.

Embora, cada família se identifique como Angola-Congo, Angola Muxicongo, etc., existem tradições diferenciadas. Algumas cultuam um nkisi/mukixi que não é cultuado por outras. Algumas têm festas que não são realizadas por outras, mas a essência é a mesma: Nzambi Mpungu ou Suka Kalunga (um dos seus muitos nomes), que mora na Sanzala Kasembe Diá Nazambi (Aldeia encantada de Deus)/Duilo (céu), é o Deus Supremo e criador de todas as coisas. Quando do seu movimento de expansão e de criação, gerou o universo e conseqüentemente o planeta terra, que foi gerado pela energia e criação dos Nkisis/Mukixis que se manifestam nas diferentes partes da natureza e também regem a natureza humana. Através do culto aos Nkisi/Mukisi, já que Nzambi está acima de qualquer forma existencial e de qualquer representação e culto, pois é completo em si mesmo, o ser humano consegue o equilíbrio e ascende espiritualmente como iniciado, até que chegue o momento de ir morar nas Aldeias dos Antepassados, onde se mantém vivo. Onde os campos são verdes e os rebanhos fartos. Onde são felizes e mantém o intercâmbio com o mundo dos humanos, que é sua continuidade. Os antepassados, também, são respeitados e invocados como intercessores e intermediários entre os seres humanos e Nzambi. A eles são devidos todo o respeito e todo ação de culto dentro de uma nzo (casa), que deve sempre iniciar com a invocação e homenagens aos antepassados.

 

AS FAMÍLIAS DA NAÇÃO ANGOLA

LUJIKU – RESPEITO: FAMÍLIA MARIA NENÉM

“A senhora Maria Genoveva do Bonfim nasceu no dia 20 de janeiro de 1865. Foi iniciada por Roberto Bairro Reis. Ficou conhecida como Maria Neném e se tornou a grande matriarca de uma Família da qual se originaram inúmeros Terreiros do Candomblé da Nação Angola, dentre eles: Tumba Junçara, Bate Folha, Tanuri Junçara, Awziidi Junçara,  e tantos outros na Bahia e em todo o Brasil.

Seu Terreiro se localizava no Antigo Bairro do Beiru, Rua Melo Morais Filho, com o Nome de TUMBENSI. Atualmente o Terreiro continua na mesma rua, sendo o Bairro conhecido hoje como Tancredo Neves,  e tem a frente a Sra. Geurena Passos Santos, tendo como nome sagrado Nengwa Kwa `Nkisi Leembá  Muxi.   Maria Neném faleceu no dia 01 de Abril de 1945.” 

Ao reverenciar a  memória de Maria Neném, importante matriarca da Tradição Bantu, a Kizoonga Bantu teve a honra de contar com a presença da Srª Geurena, atual Mameto do Terreiro Tumbensi, Raiz fundada por Maria Neném.  No entanto, muitos membros de sua família não sabiam que o Tumbensi estava aberto. Com surpresa e felicidade este fato foi mencionado nos diversos depoimentos que se seguiram.

Devido à prática, já existente na Família Junçara de reunir-se com freqüência para  manter suas   tradições, o seu jeito de ser e  pesquisar a vida de Maria Neném foi possível motivar uma reunião no  Terreiro Tumbensi. 

A lição que aprendemos com Maria Neném na Kizoonga Bantu é uma exigência de diminuirmos  as distâncias entre nós. De mantermos as portas abertas uns aos outros e principalmente, retomar a prática de visitas e participação nas festas uns dos outros. Nossa força está na união, no combate à falsidade e a tudo o que pode vir a nos desunir. 

                     

 

NZINGU - LUTA: FAMÍLIA AMBURAXÓ

“Como começou o Terreiro Amburaxó? 

Em 1910 na Fazenda Beiru, o Sr. Miguel Arcanjo de Souza comprou as terras da Família Hélio Silva Garcia e lá instalou em 29 de janeiro de 1910 o Terreiro do Ekutá Angwe Nvunji Kimbunji, na Rua da Lagoa, nº 28 – Beiru, atual Bairro de Tancredo Neves. Constitui-se uma nação que já naquela época sofreu com a discriminação, devido a sua diversidade religiosa,  entre o próprio Povo do Candomblé. Hoje em dia, quase ninguém ouve falar dessa Nação. O saudoso Miguel Arcanjo pertencia ao `Nkisi Masaangwa ye Nzazi, ficou conosco até 16 de maio de 1941, com 81 anos de idade, sua dijina é Masaangwa, Rei de Ngoongo. Com o passar dos anos, a comunidade sofreu inclusive uma desapropriação. Os descendentes de Amburaxó com casa aberta foram poucos. Sabemos de Pedro Duas Cabeças, que resistiu com o Candomblé Amburaxó até sua morte. Nunca passou para o Ketu, mesmo sofrendo críticas. A finada Morena, que abriu o Terreiro V. São Roque. No entanto, após seu falecimento, não havia quem prosseguisse com os fundamentos Amburaxó.  A partir daí, o Terreiro V. São Roque se tornou Ketu.”

A Lição que aprendemos com Taata Masaangwa é sem dúvida a resistência. A discriminação racial vem se “re-editando” sob diversas máscaras em nossa história. O racismo institucional fez da intolerância religiosa seu braço atuante: feroz e incansável, agressor e assassino. Não vamos nos enganar: a intolerância religiosa nada mais é do que uma face do racismo que vem marcando nossas histórias e perpetuando as desigualdades sociais em nosso mundo e vem motivando dois terços das atuais guerras.

Aqueles que descobriram o “lucro monetário” que o racismo gera, vem se especializando nas formas mais perversas de agressão. Assim, os meios de comunicação social são utilizados para manchar nossos princípios e valores mais íntimos.

No entanto, eu me pergunto: de onde vem o farto material que esses grupos têm utilizado para nos agredir, para cometer tais crimes? A resposta está em nossas próprias casas. A resposta está em nós mesmos. 

Outro desafio que a lição dos Amburaxó nos traz: precisamos estar mais presentes, a partir do jeito de ser, de aprender e ensinar de nossos mais velhos. Nós sabemos que estamos diante de bibliotecas vivas e como em qualquer outra biblioteca é preciso “solicitar o acesso, fazer a carteirinha, escolher o livro, ter cuidado e zelo por ele, fazer silêncio para realizar a leitura, apropriar-se do seu conteúdo, falar sobre ele com os companheiros, retornar muitas vezes à biblioteca, levar o livro para casa...”, enfim, precisamos nos convencer que o conhecimento de um mais velho é um tesouro escondido em um frágil baú.

 

LUZOLELU - CONQUISTA: FAMÍLIA MAKWEENDE

“O Terreiro Unzo de Taata Makweende foi fundado por Constâncio Silva e Souza, angolano de nascimento, no Bairro do Cabula, em um lugar chamado Girão e mudou-se duas vezes. A primeira para o Jardim da Armação e depois para a Ladeira do Caxundé, na Boca do Rio. Respectivamente sucessor de Constâncio, Gregório Makweende, filho consangüíneo deste, foi iniciado para o `Nkisi Leembá quando assumiu a direção do Terreiro. Recebeu o título de Taata Kimbanda. Gregório Makweende nasceu em 1874 e faleceu no dia 25 de abril de 1934. Depois dele o terreiro foi dirigido por Romana França Souza, filha consangüínea de Gregório e com o falecimento desta passou a ser dirigido por sua filha Heloína Souza Santos. É um terreiro destinado mais aos cuidados dos filhos consangüíneos. Segundo o professor `Nlaandu Laanda `Ntootila a palavra Makweende significa “Sacerdote encarregado do culto a Nkosi Mukuumbi”. 

Uma grande lição que aprendemos com Taata Makweende foram à união de sua família: crianças, sobrinhos, netos. Uma família de 10 irmãos que moram em volta do Terreiro. Com dedicação e resistência se dedicam totalmente ao Unzó. 

Diante de sua riqueza histórica e pela união de seus familiares as pesquisas da ACBANTU acabaram por constatar que o Unzo Taata Makweende trata-se de um verdadeiro Quilombo Urbano. Mesmo assim, para que se possa prosseguir na solicitação da titulação como Comunidade Quilombola, todos os membros da família aguardam a autorização de seus Ancestrais. Assim, podemos constatar que a união entre nós gera de forma contínua e permanente, as respostas para a dignidade de nossas vidas e de nossos filhos. Uma verdadeira proteção contra pessoas que se aproximam de nós vestidos de cordeiros, sendo na realidade lobos famintos querendo nos destruir.

 

KISALU - SERVIÇO: FAMÍLIA DA GOMÉIA

“ O Taata kwa `Nkisi Joãozinho da Goméia, João Alves Torres Filho, nasceu em Inhambupe, no Estado da Bahia, no dia 27 de março de 1914.  Do terreiro  da Goméia em São Caetano, na cidade Salvador- Bahia, vieram os primeiros filhos que aprenderam, a exemplo de seu Taata a  receber em seu terreiro despretensiosamente, quantos o procuravam, sem distingui-los pelo credo religioso, política,  condição social e racial, posto que, segundo as determinações de seus Bankisi, a caridade, o bem comum, a paz estavam acima de tudo.”

A presença dos descendentes de João da Goméia na Kizoonga Bantu proporcionou a todos os presentes momentos de profundo desafio em relação ao papel social dos Terreiros na organização e realização de ações que possam gerar o bem comum entre seus filhos e na comunidade local.

O Terreiro S. Jorge Filho da Goméia, da lendária Mirinha do Portão, desenvolve importantes iniciativas de trabalho social com crianças e adolescentes. Um exemplo de organização social, auto-estima e  celebração da Cultura Bantu. Todo o bairro está inserido em seu trabalho social e desta forma o Terreiro vem gerando emprego e renda para suas famílias, preparando jovens para buscarem com dignidade seu primeiro emprego. A nossa cultura se expressa em um serviço singular e fundamental na construção da cidadania.

                                               

 

LUSANSU - TRADIÇÃO: FAMÍLIA MARIQUINHA LEEMBÁ

“Falar de Mariquinha Leembá é difícil porque se tem pouca coisa registrada. De caráter arredio, não gostava de fazer o santo de homens. Ela teve um único filho de santo homem: Nicasio Manuel dos Reis, dijina Ngonbenazaze. Ela se escusava de atender pessoas que não eram negras, estudantes, jornalistas, pesquisadores, etc.”

A Família Mariquinha Leembá nos fez recordar a Lição da convivência em nossas casas. Antigamente as pessoas  tinham mais tempo para conviver na roça, e observavam mais coisas. Não questionavam, observavam, aprendiam. Hoje as pessoas tem menos tempo para conviver e questionam muito. 

No entanto, é preciso re-descobrir formas de aprendizado e convivência. É fundamental estar atento aos mais velhos.  As gerações de hoje tem dificuldades de  ouvir histórias. Parar para ouvir. Muitos mais velhos estão cansados e parecem não acreditar no interesse em aprender dos mais novos. 

Com o passar dos anos, nós estamos perdendo muito. Hoje a maioria dos terreiros já não fazem mais  nkita, kitaanda. Infelizmente muito de nossas Raízes estão se perdendo. A responsabilidade é somente nossa. Ao perder a tradição oral estamos perdemos nossa identidade. 

Temos que ser mais pacientes entre nós. Precisamos conversar mais com os nossos mais velhos porque eles são a chave. Eles nos ensinam e nos dão respostas para muitas perguntas que pairam em nossas cabeças. A nossa Religião conta principalmente com a Oralidade para sobrepor-se aos obstáculos do dia a dia.

Nós podemos re-inventar momentos e condições para motivar os mais velhos e os mais novos neste processo. É preciso resgatar nossa historia. E com tempo. As pessoas mais velhas não se expõem de primeira linha. É preciso se reunir mais e mais, transmitir confiança aos mais velhos. Ficamos esperando que as pessoas antigas cheguem aqui e abram o livro. Mas, que livro? Quão importante é este livro? Quem quer ler este livro? É um livro na verdade, não escrito. 

Vou pedir licença para repetir as palavras da Mameto Jiringê, a sacerdotisa mais idosa e com casa aberta da Família Mariquinha Leembá: “Uns preparam e tem fé: segura. Tem outros que não tem fé: deixam tudo a toa. Quem não tem fé pode segurar alguma coisa? Não pode. A aula é a fé. A gente deita no chão com a roupa limpa, suja, não liga. Porque é a fé. Tem que saudar o `Nkisi. Tem que deitar para saudar. Seja lá de que idade for. Não tem idade, porque é velho no santo? Não tem nada disso. Tem que deitar para saudar. É a fé. Se não teve fé não existe nada. Tudo é nada. Aquilo se acaba ali. A verdadeira é a fé. Diga o que quiserem: candomblé é ilusão, etc. Tenha fé e segure. Deixe quem tiver que dizer o que quiser. Cuide do que é seu. Zele. Reze com fé, e aí pronto.”

Outro aspecto importante que aprendemos com Mariquinha Leembá é o fato de guardar nossos saberes para quem é da comunidade. Ou seja, nós temos que ser os sujeitos da produção cultural de nossa religião. Devemos pesquisar, nos apropriar da nossa história de dentro para dentro. Não precisamos de pessoas de fora para nos tornar objeto de pesquisa. Nós somos a Cultura. Atualmente vários Terreiros realizam pesquisas de si mesmos com propostas de Museus Comunitários: preservando a memória de seus Ancestrais; ou ainda pesquisas sobre suas origens, Patrimônio Imaterial, etc. 

 

Principais Nkisis

Aluvaiá, Bombo Njila, Pambu Njila, Nzila, Bombogira, Mujilo, Mavambo, Vangira, Njila, Maviletanga: – Intermediário entre os seres humanos e o outros Nkisis (cf. Exú Orixá). Na sua manifestação feminina, é chamada de Pombagira por algumas casas, muitas aceitam o uso desse nome.

Nkosi, Panzuá, Xauê, tawan: – Nkisi de guerra e Senhor das estradas de terra,  qualidades ou caminhos desse Nkisi. Roxo Mukumbe Mucumbe Biolê Buré.

Ngunzu, Terecompenso: – Engloba as energias dos caçadores de animais, pastores, criadores de gado e daqueles que vivem embrenhados nas profundezas das matas, dominando as partes onde o sol não penetra.

Kabila: – O caçador pastor. O que cuida dos rebanhos da floresta.

Mutalambô: - Caçador vive em florestas e montanhas, Nkisi de comida abundante. Lembaranguange.

Gongobira, Gongofila, Congobira, Mukongo Mbila: – Caçador jovem e pescador. Gongobila.

Mutakalambô: – Tem o domínio das partes mais profundas e densas das florestas, onde o Sol não alcança o solo por não penetrar pela copa das árvores.

Katendê, Mene Panzu: – Senhor das Jinsabas (folhas). Conhece os segredos das ervas medicinais.

Nzazi, Zaze, Barangange: – É o próprio raio, entrega justiça aos seres humanos. Loango.

Kaviungo ou Cafunã: – Nkisi da varíola, das doenças de pele, da saúde e da morte. Kavungo Kafungê Kafunjê Kingongo Kafundeji.

Nsumbu, Sumbo – Senhor da terra, também chamado pelo povo de Congo de Moçambique Ntoto.

Hangolo (masculino) e Angoroméa (feminino): – Auxilia na comunicação entre os seres humanos e as divindades (representado por uma cobra). Angorô.

Kindembu, Kitempu: – Rei de Angola. Senhor do tempo e das estações. É representado, nas casas Angola e Congo, por um mastro com uma bandeira branca, chamada de Nkisi Tempo Bandeira de Tempo.

Caiango,Radialonga: – É o Nkisi do tempo e tempestades.

Matamba, Mina Nganje: – Qualidades ou caminhos de Katambo. Guerreira comanda os mortos (Nvumbe). Bamborucenda Nunvurucemavula.

Kisembi, Kiximbi, Mina lugando: – A grande mãe; Nkisi de lagos e rios. Samba Nkisi.

Ndanda Lunda, Dandalunga: – Senhora da fertilidade, e da Lua, muito confundida com Hongolo e Kisimbi.

Kaitumba, Mikaia, Caiala, Iara, Cuiganga: – Nkisi do Oceano, do Mar (Kalunga Grande), muito cultuada em moxico em angola. Koketo.

Nzumbarandá, Zumbá, Zunganaranga, Karamoxe: – A mais velha das Nkisi, conectada para morte.

Wunji, Vunge, Nwunji: – O mais jovem dos Nkisi, Senhora da justiça. Representa a felicidade de juventude e toma conta dos filhos recolhidos.

Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Nkasuté Lembá, Gangaiobanda, Malembá: – Conectado à energia que rege a fertilidade.

O Deus supremo e Criador é Nzambi ou Nzambi Mpungu; abaixo dele estão os Jinkisi/Minkisi, divindades da Mitologia Bantu. Essas divindades se assemelham a Olorun e Orixás da Mitologia Yoruba, e Olorum e Orixá do Candomblé Ketu.

 

Funções e Cargos no Candomblé de Angola e Kongo

Seguimos então com os termos utilizados dos Cargos Máximos e reconhecidos, dos “mais velhos para os mais novos”: 

Nengüa – Sacerdotisa (Kongo) /Mãe de Santo velha

Nganga – Sacerdote (Kongo) /Pai de Santo velho

Kimbanda – Feiticeiro

Mama – Mãe (Kimbundu)

Tata – Pai (Kimbundu)

Mam’etu Ria Mukixi – Sacerdotisa no Angola/Bantu

Mama Mukixi/ Mam’etu Nkisi (Inquice) ou Inquiciane – Minha ou nossa Mãe de Santo

Tat’etu Ria Mukixi – Sacerdote no Angola/Bantu

Tata Mukixi/ Tat’etu Nkisi (Inquice) ou Inquiciane – Meu ou nosso Pai de Santo

Cargos principais utilizados e concedidos pelos cargos acima:

Pai feiticeiroTata Nganga – 

Kutala – Herdeiro da casa

Tata ou Tat’etu Ndenge – Pai pequeno

Mama ou Mam’etu Ndenge – Mãe pequena

Tata Kambondo/Kambono/Kambundu – Título consagrado aos “homens” que não incorporam, não entra em transe e são responsáveis por várias funções de alta confiabilidade divididos em cargos como:

Tata Nganga Lumbitu/Lumbido – Guardião das chaves do Inzó Nzó (Casa de Santo)

Tata Utala – Responsável pelo altar

Tata Pokó – Consagrado para sacrifícios ou imolações ao Nkisi Nkosi

Tata Kivonda/Kivanda – Consagrado para sacrifícios ou imolações a outras divindades

Tata Msaba (Umsaba)/ Kisaba – Consagrado a todas as funções ligadas as folhas

Tata Kanzumbi/Nzó Vumbi – Responsável pelo Mukondo (Ritual fúnebre), guardião dos antepassados cultuados no Inzó/Nzó (Casa de Santo/Barracão), carregos e despachos de ebós

Tata Ngimbi/Njimbidi – Cantador

Tata Kuxika ia Ngombe – Tocador (Kongo)

Tata Muxiki – Tocador (Angola)

Tata Mulonji – Especialmente os filhos do Nkisi Katendê é o responsável pelo encantamento das folhas e cabaças

Kambondo Mabaia – Responsável pelo barracão

Tata Mavambu – Filho de Santo, homem, que cuida da casa de Exu. É importante frisar que deve ser pessoa de extrema confiança, e a mulher só deverá cuidar deste espaço sagrado, após menstruar e já esteja na menopausa.

Mama ou Mam’etu Mukamba – Mulher com mais idade, responsável em cozinhar no barracão, e que de preferência não menstrue mais.

Mam’etu Ndemburu – Mãe criadeira da casa

Mama ou Mam’etu Kusasa – Mãe criadeira

Kota – Mulher que não entra em transe de incorporação. Em outras nações conhecida também como Ekedi (Ekeji).

Kota Mbakisi – Responsável pelas divindades

Hongolo Matona – Especialista nas pinturas corporais

Kota Ambelai – Cuida e atende os iniciados

Kota Kididii – Toma conta de tudo e mantém a paz

Kota Rifula – Responsável em preparar as comidas sagradas

Kota Mutintá – Responsável pelo preparo das tintas sagradas

Mosoioio – Os (As) mais antigos (as).

Kota Maganza – Título das pessoas acima de 21 anos de obrigações.

Munzenza ou Muzenza – Iniciados

Mona Nkisi – Filho (a) de Santo

Mona Muhato wá Nkisi – Filha de Santo (Mulher)

Mona Diala wá Nkisi – Filho de Santo (Homem)

Uandumba – Pessoa em sua fase iniciatória

Ndumbe – Pessoa não iniciada

 

Os sacramentos são:

1 – Massangá: Ritual de batismo de água doce (menha), na cabeça (mutue), do iniciado (ndumbi), usando-se ainda o kezu (Obi).

2 – Nkudiá Mutuè: (Bori)- ritual de colocação de forças (Kalla ou Ngunzu(Angola)= Asé(Axé) = Muki(Congo)), através do sangue (menga) de pequenos animais.

3 – Nguecè Benguè Kamutué: ritual de raspagem, vulgarmente chamado de feitura de santo.

4 – Nguecè Kamuxi Muvu: Ritual de obrigação de 1 ano.

5 – Nguecè Katàtu Muvu: Ritual de obrigação de 3 anos (Nguece = obrigação), nessa obrigação, faz-se o ritual de mudança de grau de santo.

6 – Nguecè Katuno Muvu: Ritual de obrigação de 5 anos, preparação quase que identica a de um ano, só que acompanhada de muitas frutas.

7 – Nguecè Kassambá Muvu:ritual de obrigação de 7 anos, quando o iniciado receberá seu cargo, passado na vista do público, sendo elevado ao grau de Tata Nkisi (Zelador) ou Mametu Nkisi (Zeladora).

As obrigações, são de praxe para os rodantes, porque Kota (ekedi) e Kambondo (ogã), ja recebem seus cargos na feitura, portanto já nascem com suas ferramentas de trabalho, dão suas obrigações para aprimorar seus conhecimentos.

Em Angola, quem passa cargo são os enredos de Dandalunda. Isto é, não é preciso ser filho de Dandalunda, mas é ela quem autoriza aquela pessoa a receber o cargo.

Após 7 anos de obrigações, se renovarão a cada ano com rito de obi ou borí, conforme o caso, repetindo-se as obrigações maiores de 7 em 7 anos para renovar e conservar o indivíduo forte, transformando-o em Kukala Ni Nguzu- Um ser forte.

Kunha Kele: Sacramento realizado 3 meses e 21 dias após a feitura ( tirada de kele), quando o santo soltará a Kuzuela = Ilá.

Ordem de barco (sequência das pessoas recolhidas juntas para iniciação) na Angola:

1º – Kamoxi, 2º – kaiari, 3º – katatu, 4º – Kakuanam, 5º – kakatuno, 6º – Kassagulu, 7º – Kassambà.

Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância e responsábilidade são: é mais frequente se dizer Tata Nkisi (homem) ou Mametu Nkisi (mulher).

 

                                                                  

 

Raspagem, Batismo e Iniciação

O ritual de iniciação no Candomblé Angola, a feitura do Santo, representa um renascimento, tudo será novo na vida do Mona Nkisi (filho-a), ele receberá uma dijna, nome pelo qual passará a ser chamado dentro da comunidade do Candomblé. É marcado um toque no barracão que chamamos de ABOLONÃ, são feitas algumas cantigas para os Nkisis no Nzó, e somente nas cantigas de KIDEMBO o filho passa a entra em transe com seu Santo a onde bola no chão como se houvesse uma necessidade da feitura na qual se inicia os caminhos entre o filho e seu Nkisi.

A feitura tem por início: recolhimento, que são de 21 (vinte e um) dias de reclusão, e neste prazo é realizado banhos, kibane mutuê, disciplina, oferendas, ebós e todo o aprendizado, rezas, danças, as cantigas, e outros… Dando iniciação, a raspagem no MUTUÊ (cabeça) o muzenza recebe o canal de comunicação com seu Nkisi, entre o ritual que vai se aprimorando, o principal entra com seu nascimento que chamamos de ORÔ MAIOR , se recebe o kelê, o mocrãn, os idés, os monjilós, umbigueira, contra eguns. O Mona Nkisi terá que passar por uns rituais no decorrer dos 21 dias. Seu corpo será katulado que é o fechamento de corpo com navalha passado a pemba e o atim, pois o filho ficará livre de males que possam lhe prejudicar em seus caminhos.

O batismo é fundamental do Mona Nkisi pois estará recebendo toda a energia ocular entre a sua vida espiritual junto com o nascimento de seu Nkisi. O batismo realizado no Candomblé Angola, e que utilizamos nada mais que a água energia de Nzambi Mpungu para seu nascimento, águas de Lembá e Nzazi, tiradas no Nzó do Zelador, que será lavada a cabeça do iniciante, com rezas e fundamentos. As pinturas com a pemba ralada tem que ser feita conforme a sua hierarquia, com suas devidas cores, denominado efun. Ele deverá passar por quatro saídas a primeira no alá branco a segunda na pintura branca, a terceira com as cores dos Nkisis conforme a hierarquia e a ultima a saída do seu Nkisi com suas roupas e paramentas. Mona Nkisi terá agora o assentamento do seu Nksi para ofertar-lhe com sacrifícios de animais de acordo com as características de cada um.

A festa ritualística que marca o término deste período é denominada saída do Santo, neste momento ele será apresentado à comunidade. Ele será acompanhado por uma autoridade à frente de todos para que lhe sejam rendidas homenagens. Deitado sobre uma esteira, ele saudará com adobále e paó, que são palmas compassadas que serão dadas a cada reverência feita pelo Mona Nkisi e acompanhadas por todos presentes, como demonstração de que a partir daquele momento ele nunca mais estará sozinho na sua caminhada. Primeiramente saudará o Mundo, neste momento a localização da esteira é na porta principal da casa, no seu interior, ele saudará a Intoto o Nksi da terra, e por último de frente as Ngomas que representam as autoridades presentes. O momento mais aguardado do cerimonial é o Orukó, neste momento o Nkisi dirá o nome de iniciação de seu filho perante todos e também neste momento que se abre a sua idade cronológica dentro de sua vida no Santo. 

A celebração do Nkisi é sempre aos sábado, dando continuidade no domingo com a QUITANDA DE WUNJE , na segunda-feira celebramos a FLOR DO VELHO que simboliza a mesa farta. Após a saída do recolhimento o Mona Nkisi permanecerá de resguardo até a queda do kelê fora do barracão por um período de 3 (três) meses, neste período ele será orientado de tudo que não pode fazer, o preceito do Kelê é de extrema responsabilidade pois se falhar pode perder a sua relação entre a sua caminhada com seu Nkisi, deve continuar a sentar-se no chão sobre a esteira durante um ano, está proibido de utilizar outra cor de roupa somente o branco da cabeça aos pés, nem tão pouco sair à noite. Até que o Mona Nkisi complete a maior idade de Santo, terá que continuar dia a dia o seu aprendizado e reforçar os seus votos por meio das obrigações. O transe é imprescindível para que uma pessoa seja iniciada com o batismo, pois, a manifestação faz parte da liturgia dos Nkisis e ele está em cada um de seus filhos. Isso é muito importante, porque só os batizados podem assumir determinadas funções sacerdotais, como os cargos de Tata (Zelador) ou Mam´eto (Zeladora).

           Terreiro de Tumba Junsara - Salvador/BA